Cor: Roxo
1ª Leitura - Is 43,16-21Salmo - Sl 125,1-2ab.2cd-3.4-5.6 (R. 3)
2ª Leitura - Fl 3,8-14
Evangelho - Jo 8,1-11
Reflexão
Nestas primeiras cinco semanas da quaresma fizemos uma caminhada pelo evangelho de Lucas. Nesta caminhada refletimos sobre as tentações que Jesus enfrentou e superou, sobre a sua transfiguração quando ele mostrou a sua futura glória, sobre a lição da figueira quando aprendemos que é preciso produzir frutos e, na semana passada, sobre a parábola do filho pródigo e a misericórdia do pai. Hoje temos uma leitura do evangelho de Joao, que mais uma vez nos faz refletir e nos ensina sobre o rosto da misericórdia de Deus e o jeito de ser cristão.
Para compreender este evangelho da mulher adúltera, devemos primeiro descobrir o sentido da palavra justiça. Ficar justo significa ficar do lado, ou no sentido religioso, acomodar-se a vontade de Deus com base na palavra. É a qualidade de estar conforme com o que Deus quer do ser humano, fazer a vontade de Deus em relação ao outro.
Para os fariseus, a justiça consistia em cumprir a Lei, ficar do lado de Deus era observar as obrigações e proibições e quem conseguia observar tudo era justo.
E a lei era clara, e pessoa apanhada em adultério devia ser apedrejada. Mas o adultério não era somente o ato sexual. Podia cometer o adultério simplesmente pelo olhar e pelo desejo. Neste sentido, a pessoa podia adulterar sozinha e para Jesus esta regra aplicava também para o homem e não só para a mulher.
Então, trouxeram a mulher, colocaram no meio e perguntaram: devemos ou não apedrejar. O interesse não era a vida da mulher, para eles ela não valia nada, mas para experimentar Jesus e ter razão para acusá-lo. Jesus se abaixa e começa a escrever no chão e diante da insistência deles, ele responde: "Quem tiver sem pecado, atire a primeira pedra". Jesus modifica o enfoque, é uma reviravolta. Pois Jesus aplica a regra a eles, pois diante da lei, eles também eram culpados. Todos vão embora começando com os mais velhos.
Jesus, como enviado do Pai, mostra o rosto misericordioso do Pai. O justo não é aquele que condena mas descobre que a justiça de Deus é perdão e misericórdia.
Como isto aplica a nós? Podemos olhar o mundo em que vivemos. Muitas vezes o que conta mais não é o valor da vida humana, mas as coisas que podemos acumular. Enquanto o acúmulo se torna o objetivo de muitas pessoas, podemos ainda ver tantas pessoas condenadas à fome e miséria sem acesso ao mínimo necessário para viver. Este ano, ao fazer nossa reflexão da Campanha da Fraternidade, podemos também ver como estas atitudes levam para a destruição da nossa Casa Comum. Valorizar a vida significa valorizar tanto a vida das pessoas como também ter o respeito para com toda a criação. Será que entendemos que, como cristãos, temos uma grande responsabilidade diante da destruição que está acontecendo todo dia ao nosso redor, e muitas vezes porá causa da nossa falta de conscientização e ação?
Por isso, Jesus também nos questiona, pois para ele não são as regras de uma sociedade que é o mais importante, mas a vida tanto das pessoas como também da criação. Por isso, devemos sempre lembrar:
- Precisamos nos fundamentar na palavra de Deus para descobrir que a felicidade não depende dos bens e do acumulo, mas na capacidade de ficar do lado de Deus, ser justo, e defender a vida como Jesus defendeu a vida da mulher.
- Segundo, como cristãos devemos sempre ter um olhar crítico. Para os fariseus o único modelo era a lei, mas Jesus mostra que em vez de tirar pedras, devemos ter uma atuação nova como cristãos. Na medida que vivemos a solidariedade e a partilha podemos construir um mundo novo onde existe o respeito pelo valor da pessoa humana e onde se vive a fraternidade.
- Isaías fala assim: “Não relembreis coisas passadas, eu farei coisas novas”. Quando Jesus ficou do lado da mulher e desmascarou os fariseus, coisas novas aconteceram, quando nós vencemos o nosso egoísmo e vivemos nosso compromisso com a vida e a fraternidade, coisas novas também podem acontecer. Quaresma não é um tempo de atirar pedras mas construir a fraternidade.
Frei Gregório Joeright, ofm
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